sábado, 30 de janeiro de 2010

Number 9. Number 9. Number 9. Number 9...

Apesar das muitas e diferentes interpretações feitas à musica Revolution 9 dos Beatles(desde uma brincadeira musical, passando por tentativas de inovação e chegando até teorias da conspiração sobre eventuais golpes publicitários), aquela que mais me seduz, mas que provavelmente está errada, é a minha própria.
O tom sombrio e inquietante que caracteriza esta música em muito se associa à lugubridade da conotação musical do número 9.
A chamada "Maldição dos 9" afectou uma considerável parte dos grandes compositores de sinfonias do período romântico. A partir de Mozart (que compôs 41 sinfonias) e Haydn (108 Sinfonias!) reinou uma "maldição" que impedia todos os [grandes] compositores de viver após terem escrito a sua nona sinfonia. De entre os exemplos mais proeminentes destacam-se Beethoven, Vaughan Williams, Schubert, Dvořák, Bruckner e, finalmente, Mahler. Dmitri Shostakovich, autor de 15 sinfonias, foi o primeiro grande compositor a quebrar esta funesta tradição.
Gustav Mahler, contudo, impelido pela sua supersticiosa mulher, Alma, tentou "dar a volta" a este problema e fugir à Maldição. Tinha já composto 9 sinfonias quando decidiu apelidar aquela que sucedia a oitava de "Das lied von der Erde" (Canção da Terra) ou Eine Symphonie für eine Tenor- und eine Alt- (oder Bariton-) Stimme und Orchester (nach Hans Bethges "Die chinesische Flöte") (Uma sinfonia para alto e tenor (ou barítono) e orquestra (a partir da "Flauta Chinesa" de Hans Bethges)) em vez de "Sinfonia no.9". Compôs, então, a sua 10ª sinfonia, (à qual chamou sinfonia no.9) numa tentativa de fugir ao seu destino, enganando a morte. Porém, morreu enquanto compunha a sua Sinfonia nº 10, deixando-a incompleta. À morte ninguém ganha.
Gustav Mahler (1860-1911)


É então no encalço desta introdução que vos falo do concerto que me trouxe aqui hoje.
Realizado na Gulbenkian no dia 29, a orquestra homónima, conduzida pelo maestro francês Bertrand de Billy executou a Sinfonia nº9, em Ré Maior, de Gustav Mahler.
Com um duradouro silêncio, doutamente respeitado pela plateia, Bertrand de Billy deu inicio aquela por muitos considerada a mais bela sinfonia de Mahler. Logo no primeiro andamento, Andante commodo, a tranquilidade harmoniosa com que a orquestra tocou transformou a atmosfera do auditório na do mundo característico das sinfonias Mahlerianas, retirando ao espectador tudo aquilo que o mantém preso à terra, abstraindo-o de todos os elementos circundantes, para além da música. Todas as minhas emoções oscilavam ao ritmo das trompas e dos privilegiados contrabaixos, que, tal como a música, escalaram vertiginosamente por uma parede de sons até um explosivo clímax.
No segundo andamento, este um pouco mais valsado e quieto, a atmosfera manteve-se, bem como o comportamento da orquestra, sempre fiel aquilo que era pretendido.
O terceiro andamento repôs todo o êxtase vivenciado no primeiro, caracterizando-se pela sua imponência expressionista e ao mesmo tempo grotesca.
A entrega total deu-se, porém, no último andamento - adagio - em que a peça atingiu o seu cúmulo apoteótico. As suas longas e lentas frases remeteram-me para um mundo transcendental, onde o enlevo foi imperante.
No fim desta sinfonia o maestro repetiu a façanha do início, submetendo-nos a um silêncio tão inquietante e assombroso como o resto da peça.

Para avaliar interpretações de Mahler imparcialmente é-me necessária uma capacidade abstractiva da qual não disponho, acabando sempre por me render à inclinação afectiva que tenho pelas peças deste compositor. Desta forma, e por não encontrar nada que me oriente diferentemente, sigo a voz das minhas sensações, que me diz para atribuir a este concerto a nota máxima.

Nota Final: 5/5

Q

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Grande (Des)Ilusão

Faustrecht der Freiheit - Fassbinder

Sempre que assisto a uma conversa sobre cinema alemão ou vejo qualquer tipo de referência à industria cinematográfica deste país [Alemanha] os nomes que saltam frequentemente à vista são Rainer Werner Fassbinder e Fritz Lang (apesar do último ter nascido na Áustria).

Assim, como amante cinematográfico e absoluto leigo em cinema alemão, a ideia de encetar a visualização de filmes deste país com este renomeado realizador deixou-me ansioso e com expectativas bastante altas em relação a
Faustrecht der Freiheit (esqueci-me do título do filme em português e não encontrei na net, só "Fox and his friends"). Infelizmente, "É das grandes esperanças que nascem as grandes desilusões " - Vladimir Putin (acerca do Obama ahah)

A premissa do filme não era má; era aliás, bastante boa: Um jovem e pobre trabalhador de circo, totalmente cândido e ignorante, ganha a lotaria e de um dia para o outro a sua vida muda. Homossexual, apaixona-se por um homem duma classe social diferente, um típico aristocrata que, sem Fox (o protagonista) perceber, planeia ludibriá-lo ao máximo, extorquindo-lhe tudo o que ganhara.
O problema aqui não foi a idealização, mas sim, a realização.

Por volta do décimo minuto do filme, quando a situação que está prestes a desenrolar-se é-nos exposta, a ideia do logro e a crueldade que dele advém criou em mim uma inquietação (extremamente agradável) que esperava manter-se durante o resto do filme, um horror à conduta de Eugene (o aristocrata) e do resto dos seus amigos, uma crescente preocupação com o protaginista e um sentimento de empatia para com ele que me fizesse repudiar os seus lograntes. Era essa (creio) a intenção de Fassbinder ao realizar este filme e foi exactamente aí que o realizador falhou. Nem empatia, nem preocupação. Nada. Amoção e total indiferença.

O que contribuiu, então, para este erro crasso, a falta de expressividade do filme?

O primeiro, e talvez o mais importante, as personagens em si. O excesso de ingenuidade que caracteriza Fox tornava este filme tão interessante como um jogo de ténis entre a minhã (inexistente) irmã e o Roger Federer. A facilidade com que este "emprestava" centenas de milhares de Marcos a recém-conhecidos ou a forma irracional e imediata como reagia a críticas por parte do seu suposto amante dão a todas as situações deste filme uma inverossímilhança e implausibilidade que mete dó, ou nem isso. Dá a entender que, por falta de imaginação ou empenho, o realizador procurou maneiras fáceis e pouco elaboradas de projectar este logro. (É o que dá fazer tantos filmes em tão pouco tempo)

O segundo, também relacionado com as personagens, são os actores, ou a direcção destes. Fassbinder (como actor - protagonista) manteve a mesma expressão durante todo o filme. Quer em momentos em que devia rir quer quando devia chorar. Uma decepcionante monocordia e uma imutável atitude. Quando ao resto do elenco, mais do mesmo.

Contudo, a inexpressividade deste filme não se fica só pelas personagens. Até a clareza da mensagem era dúbia. O personagem principal era tão estúpido, desinteressante e surreal que quase dá a ideia de que os alvos da "crítica" não eram os aristocratas que o burlaram mas sim os pobres - tão ignorantes e imcompetentes que não deviam ter o direito de ter tanto dinheiro. Sinceramente dúvido que fosse isso que Fassbinder queria transmitir.

Nota Final : 2/5

Q

O Dissabor da Cereja


O Sabor da Cereja - Abbas Kiarostami

Dado o facto de ter sido vencedor da palma d'ouro de 97, ser uma amostra dum suposto brilhantismo Iraniano - algo totalmente diferente para nós - e aclamado positivamente por alguma crítica, o Sabor da Cereja tinha todos os ingredientes atractivos para ser um óptimo filme. Contudo, "The bigger the height the harder the fall".

A simplicidade do enredo poderia reduzir este filme a uma curta metragem: Um homem iraniano, hesitante em suicidar-se, procura cumplices para ajudá-lo a tomar essa decisão e auxiliá-lo no acto. O primeiro, um jovem recruta do exército, amedrontado com a obscuridade da proposta, foge a sete pés. O segundo, um seminarista aplicado, recusa a proposta dada a sua posição religiosa e as suas convicções e tenta dissuadir o protagonista de a levar a cabo. O terceiro e último, um biólogo com necessidades económicas, apesar de o fazer com alguma reluctância, aceita a sugestão proposta pelo "Sr Badhi" - o protagonista - e promete cumpri-la. Não obstante, é este [o biólogo] o personagem que mais tenta influenciar a decisão de Badhi, evocando momentos do seu passado em que se encontrara numa situação semelhante à do Iraniano. O desenlace da situação de Badhi é uma incógnita e o filme acaba com filmagens "cruas" (Rare footage) do próprio Kiarostami, os actores e toda a equipa a realizar o filme que acabáramos de ver. Ah, um "pormenor" : Mais de 80% do filme passa-se dentro de um Range Rover a ser conduzido pelo protagonista, as deslocações são todas em tempo real e o deserto é paisagem dominante em toda a hora e meia. "Pormenores"...

Dum ponto de vista puramente cinematográfico, não posso dizer que tenha gostado do filme. Apesar do tão elogiado “virtuosismo técnico” de Kiarostami e da excelente prestação do actor Homayon Ershadi (Sr Badhi) o Sabor da Cereja ficou aquém das minhas expectativas. A monocordia dos diálogos, a monotonia paisagística, a excessiva duração do filme e a forma superficial como os temas foram abordados são alguns dos pontos negativos que encontro neste filme. Talvez desse uma boa curta-metragem, mas nunca uma longa de 95 minutos. E na sequência desta crítica, rejeito alguns comentários que dizem que só acha este filme secante quem apenas tem olhos para grandes produções de Hollywood . Já vi filmes tão ou mais lentos quanto este, com muito menos diálogos e acção mais reduzida e adorei. A adaptação cinematográfica do Stanley Kubrick da obra prima de ficção científica de Arthur C. Clark “2001: A Space Odyssey” ou o pitoresco “Barry Lyndon”, do mesmo realizador são exemplos de filmes com durações na orla das 3 horas, repletas de cenas lentas e paradas, mas que ainda assim entram na minha lista de filmes preferidos. Até nos filmes de João César Monteiro, incluindo “A Comédia de Deus”, existem imensas cenas que nunca poderiam figurar numa produção hollywoodesca dada a sua falta de movimento ou de entretenimento gratuito e fácil, mas não foi por isso que deixei de adorar o filme. A diferença entre esses filmes e o Sabor da Cereja é que no último não há qualquer conteúdo estético digno de apreço. Em oposição a explosões de cores nunca antes vistas ou a estações espaciais a “dançar” ao som de valsas do Strauss, a motivos bucólicos duma beleza rara e a momentos pessoais e idiossincráticos duma serenidade impressionante (uma cena linda da Comédia de Deus em que uma mulher se deita na mesa do João de Deus e começa a “nadar”), neste filme apenas vemos areia, areia e mais areia. O problema pode ser a minha falta de sensibilidade estética, mas ainda assim….

Outra exprobração que considero essencial fazer a este filme é à inadequação da cena final, em que nos são mostradas filmagens da realização do próprio filme. Considero que a adição deste elemento meta- ficcional é totalmente despropositada e não tem nada que ver com o assunto em questão. Em “Persona” (em português “A Máscara”), de Ingmar Bergman, assistimos a constantes lembranças de que aquilo que estamos a ver é apenas um filme e nada mais, e no final há uma aparição de Bergman acompanhado pelo director de fotografia Sven Nykvist, também eles a projectar o filme e a filmá-lo, como Kiarostami neste. A grande diferença é que no primeiro (filme sobre a perda de identidade e da sanidade mental associada ao uso de “máscaras” e fingimentos) o realizador quer-nos mostrar que as personagens que vemos no filme são as actrizes Bibi Andersson e Liv Ulmann e que elas estão a usar uma “máscara” ao interpretar aquelas personagens, apesar de o fazerem duma forma tão realista e intensa, libertando-se quase de si próprias para desempenharem aqueles papéis. No último o sentido disso é …..? Mostrar que aquilo era só um filme? Enganar o espectador de alguma forma? Não consigo mesmo perceber qual foi o sentido daquela cena.

Dum ponto de vista filosófico também não achei o filme grande espingarda. Acho que das questões levantadas (Haverá legitimidade moral no suicídio? Deverá haver qualquer tipo de legislação sobre este? Fará sentido, em alguma situação, escolher a morte em detrimento da vida (excluindo coisas como a eutanásia e afins)? Devemos, em alguma situação, ajudar alguém a morrer? Ou dum ponto de vista mais pessoal - “como deveríamos agir se nos deparássemos com aquela situação?) apenas a primeira foi abordada com alguma profundidade no filme, mas acho-a também a menos interessante dum ponto de vista filosófico. A minha posição quanto a essa questão é extremamente redutora pois acho que o único entrave que vejo ao suicídio é de cariz religioso. Como defendo uma total laicização dos estados…..
Quanto ás outras questões (as interessantes), o filme limitou-se a raspar ao de leve pela sua superfície. Achei que os diálogos que as abordavam eram bastante prosaicos e até mesmo “clichés”. Um guião adequado a uma produção hollywoodesca.


Em suma, apesar de não ter gostado do filme, não o detestei e não o achei péssimo. Simplesmente não percebo o Juri de Cannes.

Nota final : 2/5

Q

You're a mean one....Mr Haydn

O conceito de "música popular" é geralmente associado ao seu género homónimo, a Pop Music, o que nos faz por vezes esquecer o verdadeiro e original significado da palavra "popular". "Popular", na sua acepção mais comum significa que "é do agrado do povo". Dum ponto de vista musical pouco varia, excepto num pequeno parâmetro: "Música enquanto forma de entretenimento". Apesar de discutibilidade destas definições, o termo "popular" é quase unanimemente atribuído à Serenata nº 6 em Ré Maior, K.239 e à Serenata para cordas em Sol Maior - Ein Kleine Nachtmusik, K.525 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Aliás, mesmo dum ponto de vista histórico, as designações taxonómicas de "Serenata", Notturno" e "Divertimento" estão e sempre foram associadas a um carácter social e lúdico, tocadas geralmente para fins de entretenimento.
Agregadas a duas peças dum compositor que tinha em não muito alta estima, Franz Joseph Haydn (1732-1809), as expectativas que tinha para este concerto (21 de Janeiro - Gulbenkian) eram baixas, esperando apenas algo "divertido".
Estava, claramente, inconsciente em relação a dois factores de magistral importância:
- As peças do Haydn que iam ser tocadas, um concerto para violoncelo e um para oboé, ambos totalmente desconhecidos para mim.
- O violoncelista Lynn Harrell - um nome a não esquecer.


O concerto teve inicio com a Serenata Notturna (nº6), para duas orquestras de Mozart. Destaque para a performance do quarteto de cordas principal, especialmente para o violinista Pedro Pacheco. Uma interpretação tão festiva e harmoniosa como a peça em si. Acima da expectativas.
Seguidamente - o ponto alto da noite: Concerto para Violoncelo e Orquestra em Dó Maior, Hob.VIIb:1 - Haydn.
Sinceramente, não sei o que mais me espantou. Se foi a colossal atractividade duma peça dum compositor de que não gostava muito (atribuída a Haydn apenas em 1961!) ou o virtuosismo heterotético dum violoncelista desconhecido para mim. A leveza e simplicidade com que Lynn Harrell deslizava os seus dedos pelo braço do violoncelo, atingindo tons característicos duma violeta ou até mesmo dum violino impressionaram-me e agarraram todas as cordas da minha atenção. Foi então no primeiro solo que se deu algo de inédito. Lynn Harrell prolongou o seu estupendo solo para a entrada do primeiro andamento da 2ª Sinfonia de Gustav Mahler (1860-1911), rindo-se enquanto o fazia. Nem todos têm esses direitos.... Simplesmente delicioso.
Como seria de esperar a ovação fez-lhe jus à performance, sendo eu um dos maiores entusiastas do público. Os meus aplausos foram de certeza os mais audíveis.
Também ele entusiasmado e profundamente agradecido, aproveitou, num momento extra-programático, para tocar o Bourrée da terceira Suite para Violoncelo do Bach. Outra delícia.
Lynn Harrell (foto)

A última surpresa veio naquela que pode ser considerada a segunda parte do concerto. Desta vez não foi o intérprete Pedro Ribeiro (oboísta) quem mais se destacou mas a peça em si. O concerto para Oboé e Orquestra em Dó maior, Hob.VIIg:C1 de Haydn mostrou-se como a peça mais bonita que ouvi deste compositor. A ligeireza desta peça, composta para um dos mais leves instrumentos de sopro - o oboé - equiparam a beleza deste concerto ao nível de alguns quintetos do Mozart. Não é por acaso que a autoria desta peça é veementemente discutida entre mais prestigiados musicólogos, dada as suas tendências estílisticas Pós-Mozartianas. You're a mean one Mr Haydn.....
Para fechar este concerto, a orquestra Gulbenkian, dirigida por Lawrence Foster (Irrepreensível, como de costume - o Maestro títular da orquestra) tocou a provavelmente mais conhecida serenata de Mozart. Talvez tenha sido dos dois choques que a antecederam, ou do cansaço já evidente, mas soou-me a pouco. Momento baixo da noite, indubitavelmente.
Terminou assim esta agradável surpresa. Sem dúvida, muito acima das expectativas.
Mr Haydn, it seems we have to know each other a little better....

Nota final : 4.5/5

Q

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Winterreise - Schubert/Zender

Peter Rundel(foto)


Quando em 1827 Franz Schubert (1797-1828) compôs, para o piano e para voz, um ciclo de 24 lieder baseados nos poemas líricos de Wilhelm Müller, não lhe passou certamente pela cabeça a transformação que Hans Zender faria, 166 anos depois, ao seu querido Winterreise.
Transposta do piano para uma pequena orquestra e do frequente barítono para o original tenor, a versão de Zender encaixa-se perfeitamente no estilo vanguardista característico dos finais do século XX.

Foi então a 17 de Janeiro, sob a direcção de Peter Rundel, que o Remix Ensemble e o tenor Christoph Prégardien apresentaram, no grande auditório da Gulbenkian, esta inovadora versão do Winterreise.

A estranheza do evento começou ainda antes do soar das baladas, aquando da entrada na sala. Os habitualmente desocupados corredores da plateia estavam preenchidos, em linha, por pratos de choque e partituras para sopro. Não tinha ainda a orquestra entrado mas estava já a grande maioria dos instrumentos plantados no palco. Desde aparentemente inúteis tábuas de madeira a "cortinas de ferro", todo o estrado estava repleto de extravagâncias nunca antes associadas a música. Let the show begin.

A explosão inicial da introdutória "Gute Nacht", assemelhava-se à original em pouco mais que na letra. Com uma total distorção do tema e adição de elementos cénicos inéditos, esta versão zenderiana deu um toque totalmente novo à peça, tornado-a em algo muito mais interactivo e teátrico. Instrumentos totalmente desconhecidos para mim simulavam as condições meteorológicas de que o viandante, no decorrer da sua "Viagem de Inverno", era alvo. A amplificação electrónica da voz em pequenos trechos mais irados e silêncios inesperados e abruptos davam a esta interpretação uma vivacidade e animosidade não características da Lieder Schubertiana mas ainda assim agradável e facilmente receptível. A dispersão dos instrumentos de sopro por todo o auditório conferiam ao espectador uma sensação de holofonia jamais vista e criavam nesta peça uma dinâmica entusiasmante.
Quanto às prestações, tanto o maestro, como o tenor e a orquestra estiveram irrepreensíveis. Peter Rundel mostrou-se ao nível duma peça de tamanha modernidade e Christoph Prégardien fez justiça ao destaque que tem recebido. Contudo, dada a excentricidade e vanguardismo do concerto em questão, o mais inesperado foi a recepção do público. Uma massiva 'standing ovation' acompanhada de repetidos e sonoros "Bravos".

Acima de tudo: Divertido. Nada, porém, substitui a minha adorada gravação da EMI do Dietrich Fischer-Dieskau (Barítono) e Gerald Moore (Piano). Há coisas que nunca serão ultrapassadas.

Nota final: 4/5

Q

CODA

Este blog foi criado com o propósito de registar as minhas opiniões no que concerne a concertos, cds, filmes, livros e tudo aquilo que considerar bons alvos de crítica.

O endereço deste blog, inspirado pela música "French Fries With Pepper", dos Morphine, foi escolhido por diversas razões:
- Era a música que estava a ouvir; Adequa-se ao contexto (criticas musicais) e a combinação de batatas fritas com pimenta assemelha-se à combinação temática daquilo que será aqui registado.

O título vigente, CODA, também não foi escolhido por acaso. CODA - "Floreio final de um trecho musical" para além de se relacionar com os tópicos aqui tratados, é o nome do último albúm dos Led Zeppelin, pelos quais nutro uma estima e a afecto superior a qualquer outro grupo.

É só depois das codas que podemos ter uma opinião minimamente formulada sobre algo, e só a partir daí é que podem nascer as críticas e opiniões sobre aquilo que acabámos de ouvir, ver ou ler.

Aproveito a CODA desta descrição para caracterizar este blog como algo totalmente despido de pretensões e de high achievements. Foi criado apenas pelo puro prazer da crítica.

Yours Truly,

Q
 
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