sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Grande (Des)Ilusão

Faustrecht der Freiheit - Fassbinder

Sempre que assisto a uma conversa sobre cinema alemão ou vejo qualquer tipo de referência à industria cinematográfica deste país [Alemanha] os nomes que saltam frequentemente à vista são Rainer Werner Fassbinder e Fritz Lang (apesar do último ter nascido na Áustria).

Assim, como amante cinematográfico e absoluto leigo em cinema alemão, a ideia de encetar a visualização de filmes deste país com este renomeado realizador deixou-me ansioso e com expectativas bastante altas em relação a
Faustrecht der Freiheit (esqueci-me do título do filme em português e não encontrei na net, só "Fox and his friends"). Infelizmente, "É das grandes esperanças que nascem as grandes desilusões " - Vladimir Putin (acerca do Obama ahah)

A premissa do filme não era má; era aliás, bastante boa: Um jovem e pobre trabalhador de circo, totalmente cândido e ignorante, ganha a lotaria e de um dia para o outro a sua vida muda. Homossexual, apaixona-se por um homem duma classe social diferente, um típico aristocrata que, sem Fox (o protagonista) perceber, planeia ludibriá-lo ao máximo, extorquindo-lhe tudo o que ganhara.
O problema aqui não foi a idealização, mas sim, a realização.

Por volta do décimo minuto do filme, quando a situação que está prestes a desenrolar-se é-nos exposta, a ideia do logro e a crueldade que dele advém criou em mim uma inquietação (extremamente agradável) que esperava manter-se durante o resto do filme, um horror à conduta de Eugene (o aristocrata) e do resto dos seus amigos, uma crescente preocupação com o protaginista e um sentimento de empatia para com ele que me fizesse repudiar os seus lograntes. Era essa (creio) a intenção de Fassbinder ao realizar este filme e foi exactamente aí que o realizador falhou. Nem empatia, nem preocupação. Nada. Amoção e total indiferença.

O que contribuiu, então, para este erro crasso, a falta de expressividade do filme?

O primeiro, e talvez o mais importante, as personagens em si. O excesso de ingenuidade que caracteriza Fox tornava este filme tão interessante como um jogo de ténis entre a minhã (inexistente) irmã e o Roger Federer. A facilidade com que este "emprestava" centenas de milhares de Marcos a recém-conhecidos ou a forma irracional e imediata como reagia a críticas por parte do seu suposto amante dão a todas as situações deste filme uma inverossímilhança e implausibilidade que mete dó, ou nem isso. Dá a entender que, por falta de imaginação ou empenho, o realizador procurou maneiras fáceis e pouco elaboradas de projectar este logro. (É o que dá fazer tantos filmes em tão pouco tempo)

O segundo, também relacionado com as personagens, são os actores, ou a direcção destes. Fassbinder (como actor - protagonista) manteve a mesma expressão durante todo o filme. Quer em momentos em que devia rir quer quando devia chorar. Uma decepcionante monocordia e uma imutável atitude. Quando ao resto do elenco, mais do mesmo.

Contudo, a inexpressividade deste filme não se fica só pelas personagens. Até a clareza da mensagem era dúbia. O personagem principal era tão estúpido, desinteressante e surreal que quase dá a ideia de que os alvos da "crítica" não eram os aristocratas que o burlaram mas sim os pobres - tão ignorantes e imcompetentes que não deviam ter o direito de ter tanto dinheiro. Sinceramente dúvido que fosse isso que Fassbinder queria transmitir.

Nota Final : 2/5

Q

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