sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

You're a mean one....Mr Haydn

O conceito de "música popular" é geralmente associado ao seu género homónimo, a Pop Music, o que nos faz por vezes esquecer o verdadeiro e original significado da palavra "popular". "Popular", na sua acepção mais comum significa que "é do agrado do povo". Dum ponto de vista musical pouco varia, excepto num pequeno parâmetro: "Música enquanto forma de entretenimento". Apesar de discutibilidade destas definições, o termo "popular" é quase unanimemente atribuído à Serenata nº 6 em Ré Maior, K.239 e à Serenata para cordas em Sol Maior - Ein Kleine Nachtmusik, K.525 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Aliás, mesmo dum ponto de vista histórico, as designações taxonómicas de "Serenata", Notturno" e "Divertimento" estão e sempre foram associadas a um carácter social e lúdico, tocadas geralmente para fins de entretenimento.
Agregadas a duas peças dum compositor que tinha em não muito alta estima, Franz Joseph Haydn (1732-1809), as expectativas que tinha para este concerto (21 de Janeiro - Gulbenkian) eram baixas, esperando apenas algo "divertido".
Estava, claramente, inconsciente em relação a dois factores de magistral importância:
- As peças do Haydn que iam ser tocadas, um concerto para violoncelo e um para oboé, ambos totalmente desconhecidos para mim.
- O violoncelista Lynn Harrell - um nome a não esquecer.


O concerto teve inicio com a Serenata Notturna (nº6), para duas orquestras de Mozart. Destaque para a performance do quarteto de cordas principal, especialmente para o violinista Pedro Pacheco. Uma interpretação tão festiva e harmoniosa como a peça em si. Acima da expectativas.
Seguidamente - o ponto alto da noite: Concerto para Violoncelo e Orquestra em Dó Maior, Hob.VIIb:1 - Haydn.
Sinceramente, não sei o que mais me espantou. Se foi a colossal atractividade duma peça dum compositor de que não gostava muito (atribuída a Haydn apenas em 1961!) ou o virtuosismo heterotético dum violoncelista desconhecido para mim. A leveza e simplicidade com que Lynn Harrell deslizava os seus dedos pelo braço do violoncelo, atingindo tons característicos duma violeta ou até mesmo dum violino impressionaram-me e agarraram todas as cordas da minha atenção. Foi então no primeiro solo que se deu algo de inédito. Lynn Harrell prolongou o seu estupendo solo para a entrada do primeiro andamento da 2ª Sinfonia de Gustav Mahler (1860-1911), rindo-se enquanto o fazia. Nem todos têm esses direitos.... Simplesmente delicioso.
Como seria de esperar a ovação fez-lhe jus à performance, sendo eu um dos maiores entusiastas do público. Os meus aplausos foram de certeza os mais audíveis.
Também ele entusiasmado e profundamente agradecido, aproveitou, num momento extra-programático, para tocar o Bourrée da terceira Suite para Violoncelo do Bach. Outra delícia.
Lynn Harrell (foto)

A última surpresa veio naquela que pode ser considerada a segunda parte do concerto. Desta vez não foi o intérprete Pedro Ribeiro (oboísta) quem mais se destacou mas a peça em si. O concerto para Oboé e Orquestra em Dó maior, Hob.VIIg:C1 de Haydn mostrou-se como a peça mais bonita que ouvi deste compositor. A ligeireza desta peça, composta para um dos mais leves instrumentos de sopro - o oboé - equiparam a beleza deste concerto ao nível de alguns quintetos do Mozart. Não é por acaso que a autoria desta peça é veementemente discutida entre mais prestigiados musicólogos, dada as suas tendências estílisticas Pós-Mozartianas. You're a mean one Mr Haydn.....
Para fechar este concerto, a orquestra Gulbenkian, dirigida por Lawrence Foster (Irrepreensível, como de costume - o Maestro títular da orquestra) tocou a provavelmente mais conhecida serenata de Mozart. Talvez tenha sido dos dois choques que a antecederam, ou do cansaço já evidente, mas soou-me a pouco. Momento baixo da noite, indubitavelmente.
Terminou assim esta agradável surpresa. Sem dúvida, muito acima das expectativas.
Mr Haydn, it seems we have to know each other a little better....

Nota final : 4.5/5

Q

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