quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Winterreise - Schubert/Zender

Peter Rundel(foto)


Quando em 1827 Franz Schubert (1797-1828) compôs, para o piano e para voz, um ciclo de 24 lieder baseados nos poemas líricos de Wilhelm Müller, não lhe passou certamente pela cabeça a transformação que Hans Zender faria, 166 anos depois, ao seu querido Winterreise.
Transposta do piano para uma pequena orquestra e do frequente barítono para o original tenor, a versão de Zender encaixa-se perfeitamente no estilo vanguardista característico dos finais do século XX.

Foi então a 17 de Janeiro, sob a direcção de Peter Rundel, que o Remix Ensemble e o tenor Christoph Prégardien apresentaram, no grande auditório da Gulbenkian, esta inovadora versão do Winterreise.

A estranheza do evento começou ainda antes do soar das baladas, aquando da entrada na sala. Os habitualmente desocupados corredores da plateia estavam preenchidos, em linha, por pratos de choque e partituras para sopro. Não tinha ainda a orquestra entrado mas estava já a grande maioria dos instrumentos plantados no palco. Desde aparentemente inúteis tábuas de madeira a "cortinas de ferro", todo o estrado estava repleto de extravagâncias nunca antes associadas a música. Let the show begin.

A explosão inicial da introdutória "Gute Nacht", assemelhava-se à original em pouco mais que na letra. Com uma total distorção do tema e adição de elementos cénicos inéditos, esta versão zenderiana deu um toque totalmente novo à peça, tornado-a em algo muito mais interactivo e teátrico. Instrumentos totalmente desconhecidos para mim simulavam as condições meteorológicas de que o viandante, no decorrer da sua "Viagem de Inverno", era alvo. A amplificação electrónica da voz em pequenos trechos mais irados e silêncios inesperados e abruptos davam a esta interpretação uma vivacidade e animosidade não características da Lieder Schubertiana mas ainda assim agradável e facilmente receptível. A dispersão dos instrumentos de sopro por todo o auditório conferiam ao espectador uma sensação de holofonia jamais vista e criavam nesta peça uma dinâmica entusiasmante.
Quanto às prestações, tanto o maestro, como o tenor e a orquestra estiveram irrepreensíveis. Peter Rundel mostrou-se ao nível duma peça de tamanha modernidade e Christoph Prégardien fez justiça ao destaque que tem recebido. Contudo, dada a excentricidade e vanguardismo do concerto em questão, o mais inesperado foi a recepção do público. Uma massiva 'standing ovation' acompanhada de repetidos e sonoros "Bravos".

Acima de tudo: Divertido. Nada, porém, substitui a minha adorada gravação da EMI do Dietrich Fischer-Dieskau (Barítono) e Gerald Moore (Piano). Há coisas que nunca serão ultrapassadas.

Nota final: 4/5

Q

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